Foi mais ou menos isso (tirando a parte de surra) que falou a dona Áurea, com dedo em riste, pra uma sem noção que passou a frente de todo mundo no shopping outro dia. Esses elevadores são pra uso prioritário (não exclusivo, é verdade) de pessoas com dificuldade de locomoção. O problema é que nos andares intermediários ele passa cheio e fica difícil entrar. A ascensorista, muito educadamente por sinal, pergunta se alguém se dispõem a continuar a subida pelas escadas, dando lugar a quem realmente precisa. A maluca deu uma de João sem braço e se infiltrou no espaço deixado apesar dos protestos de todos. Bancou a surda e ficou lá no fundão olhando pro teto. Ela e um palhaço que a acompanhava. Acontece que quando o elevador voltou na descida a cretina foi obrigada a dividir espaço comigo (cadeirante), dona Áurea (uma octogenária cidadã), um senhor de muletas e uma senhora de cento e dois anos e dois meses que saía de um almoço com a família. Da sova ela escapou, mas aposto que as palavras de dona Áurea estão ricocheteando na cabeça da abusada até agora.
"Aqui vamos contar as histórias que forem acontecendo (algumas são inacreditáveis), vamos dar dicas de locais com relação a acessibilidade, vamos elogiar e criticar, além de divulgar o que estiver acontecendo por aí. Então é isso: Acessível é diário, utilidade pública e entretenimento."
segunda-feira, 11 de junho de 2012
UFC MMA: Áurea "Quebra Ossos" Vs Sem Noção da Silva
_ Escuta aqui uma coisa: você é uma tremenda cara de pau, hein? Podia muito bem descer pela escada rolante, mas não; acha que é mais esperta que todo mundo e fura a fila do elevador. Deu azar que a gente te encontrou de novo e agora vai levar uma coça pra deixar de ser vacilona!
domingo, 10 de junho de 2012
É aí que entram os dez centímetros
Todo santo dia eu sou obrigado a encarar a teoria da relatividade. Mas não é aquela do Einstein não. Como todo mundo sabe, tudo na vida é relativo, certo? Dez centímetros é muito ou pouco? Depende do que você vai fazer com eles. Eu estou na minha terceira cadeira de rodas. A primeira, na verdade, foi emprestada. Era uma daquelas de hospital, não dava autonomia nenhuma. Dependia de alguém me levar pra cima e pra baixo. Com a segunda já dava pra me deslocar por aí. Demora um tempo, mas a gente se acostuma. Depois então, mais esperto com a buraqueira das ruas, veio a hora de investir em qualidade de vida. A cadeira nova é mais leve, mais estreita, mais fácil de tocar. Engraçado que eu jurava que todo mundo fosse reparar. Saí pra rua nas primeiras vezes e ninguém notou a diferença. Todos viam a mesma de sempre e pra mim era como se tivesse trocado um Fusca por uma Ferrari. Novo período de adaptação. Apesar de mandar pra fábrica as minhas medidas e tal, fui na fisioterapeuta pra uma avaliação. E é aí que entram os dez centímetros. Por uma questão antropométrica, confeccionaram uma almofada quase um palmo mais alta que a original. Pode não parecer, mas faz uma diferença do cão. Sabe tripé de escola de samba? Pois é, me sinto como destaque em carro alegórico. É uma instabilidade meio chata; as chances de queda aumentam razoavelmente. Falando nisso, quando comecei a escrever esse post, só havia caído três vezes; ontem caí mais uma. Duas em casa, duas na rua. Todas elas por distração ou displicência; nada sério. Tem também que eu estou um tantinho acima do peso, mas não é porque eu esteja comendo um monte de bobagem e com preguiça de fazer exercícios. Na última consulta com a neurologista descobri que a culpa é do medicamento novo. Sabia. Só podia ser. Afinal, como dizia Madre Teresa de Calcutá: se você puder colocar a culpa em alguém, é exatamente isso que deve fazer.
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