terça-feira, 28 de junho de 2011

Cadeirantes do mundo, uni-vos!

Abriu um bar novo aqui perto de casa. Não vou frequentar porque logo na entrada tem um degrau de quase dois palmos de altura. Desaforo. Os caras ficaram aporrinhando a vizinhança com uma obra que durou séculos. Várias vezes tive que mudar de calçada porque estava cheia de pedra ou de areia ou de saco de cimento... Não deu pra botar uma rampa? Aí volta aquele papo de que acessibilidade é coisa séria e tudo mais. Conversa. Está cheio de aberração por aí. Outro dia eu e Gloria fomos ao Porcão Rio's. Tem uma passagem sem escada pelos fundos. E sabe por onde é o acesso? Pela cozinha. Uma cadeirante conhecida minha mora num prédio ali na esquina há dezoito anos. Ela entra em casa pela garagem, numa portinha colada à lixeira. O Itaú da Marquês de Abrantes tem um verdadeiro gelo baiano justamente na entrada destinada a cadeirantes. E eu estou falando de zona sul, região valorizada da cidade, de restaurante conceituado. Pode parecer que a gente não circula por aí, que cadeirante fica entocado em casa. Mas o papo não é bem esse não. Fui resolver uns assuntos de rua essa semana, coisa de uma horinha só. Cruzei com nada menos que cinco cadeirantes, duas pessoas com andador, três de muletas e duas de bengalas. E não, eu ainda não estou morando num asilo. Ficaram de fora do levantamento quem estava usando uma daquelas botas ortopédicas, as mães e seus carrinhos de bebê e os idosos com seus acompanhantes. Está cheio de gente com mobilidade reduzida por aí. Os investimentos em adaptação estão longe de ser dinheiro jogado fora. Falta visão aos donos de estabelecimentos comerciais. Essa rapaziada com dificuldade de locomoção é mercado consumidor também. Ou não é? Acredito que seja parcela importante do público que come, que bebe, que mora, que compra, que gasta. Dito isso convoco todo mundo pra assembleia de fundação de um grupo de protesto. O nome de repente pode ser FUPA (Frente Unida Pela Acessibilidade) ou MRA (Movimento Revolucionário Acessível). Vamos fazer barulho pra todo mundo ouvir, que nem os bombeiros. Só não vai dar pra ser na ALERJ, porque lá tem uma escadaria e tal...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Deu no RJTV

Agora está na moda aqui no Rio esse lance de explodir bueiro, não é? Parece que, desde 2007, já foram dez pro espaço. O próprio presidente da Light já admitiu que existem outros 130 pontos críticos espalhados pela cidade, principalmente em Copacabana e no Centro. Pode chamar de neurótico, mas entrei numa de desviar de tudo que é tampão de ferro que eu encontro pela frente. Acontece que tem uma quantidade absurda dessas placas espalhadas aí pelo chão. Nunca tinha reparado. É um tal de CEG, GVT, NET, CEDAE... Serão todos potenciais bueiros-bomba ou esses atentados são exclusividade da companhia de energia elétrica? Resolvi contar quantas tampas de metal tem do metrô até aqui em casa, meio quarteirão. Exatamente 240. Faço uma ideia da zona que devem ser essas galerias subterrâneas. O primeiro estudo a esse respeito foi encomendado pela prefeitura e só fica pronto em 2012. A gente já tem que ficar esperto com um monte de obstáculo por aí - buraco, pedra portuguesa, degrau. Acrescente-se mais esse item à lista. Eu estou tomando meus cuidados pra não virar estatística por aí de bobeira. Já pensou sair no Meia Hora? "Cadeirante voa pelos ares sem para quedas". Tô fora.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Em caso de emergência, aperte o botão vermelho

Outro dia fui à Praça Onze. Acho esse bairro meio inútil (não é residencial nem comercial nem arborizado nem nada). O lugar me lembra circo - por algum motivo tem sempre um armado por lá. Fui de metrô, como manda o bom senso. Acabei cruzando com um antigo colega de trabalho, que fingiu não me ver (o palhaço devia estar largando o turno lá no Beto Carreiro). Tem uma saída novinha na estação, bem em frente de onde eu precisava ir. Com rampa, guichê rebaixado, piso tátil, informação em braile e... escada. Pra chegar à plataforma, só carregado pelos funcionários. No acesso antigo não é muito diferente não. Você dá a volta no quarteirão (pela calçada mais esburacada que já tive que encarar) e desce pela escada rolante (também com a ajuda de agentes da casa). Ainda não conheço a Cidade Nova, aquela ali no Piranhão, mas dizem que é o padrão a ser seguido, com elevadores e demais instrumentos que possibilitam trânsito livre. Eu gosto do metrô. É um meio de transporte onde as coisas até que funcionam direitinho, os caras são atenciosos. Agora, eu tenho visto cada usuário por aí que eu vou te contar um negócio. Tem os coroinhas que não querem usar a escada rolante, não sabem usar os controles do elevador (as opções são três: sobe, desce e emergência; um doce pra quem adivinhar qual botão eles apertam toda vez), ainda ficam reclamando que nada funciona direito, que está tudo quebrado e tal. Tem as mães-com-criança-pequena que deixam os moleques brincarem no aparelho só pra não ficarem enchendo o saco ("Isabela Maria, sai já daí que o moço quer usar o elevador!"). Na Carioca (e na Saens Peña e na Arco Verde) tem umas plataformas pra mudar de um andar pra outro que de tão lentas dá vontade de levantar e subir andando. O troço vai apitando e acendendo uma sirene irritante igual à dos bombeiros. A velhinha me encarou com olhar desafiador, ajeitou a bengala na mão e começou a subir as escadas, na maior disposição. Não posso afirmar, mas acho que vi o apontador de jogo do bicho organizando a banca de apostas. A vovó, cheia de marra, nem se virou pra me ver sair do equipamento que ainda chacoalhava. Se apoiou na acompanhante e saiu batida. Deixa estar, na próxima eu vou à forra...