segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Maninho, o Caolha Nazista e PC, o poliglota



_ Oi, amigo! Como é que você tá?
_ Tudo certo, Maninho, tudo certo. E você?
_ Rapaz, eu já ralei pra caramba hoje. Pintei um apartamento todinho. Depois eu vou lá fazer uma limpeza boa, já pedi pra deixar a chave com o porteiro e tal...
_ Aí deu uma parada pro almoço...
_ Almoço nada, pra uma cervejinha mesmo. Uma não, duas. - Disse isso já fazendo sinal pro atendente.
_ Você joga basquete, né? - Um cara na mesa ao lado resolve perguntar pra mim.
_ Já joguei, já joguei, agora não.
_ Ué, por que não?
_ Porque eu sabia jogar em pé, agora tenho que aprender a jogar sentado.
_ Tu faz o seguinte: pega uma quadra daquelas ali no Aterro e fica só treinando arremesso. Chuta uma, depois chuta outra... Daqui a pouco já tá craque.
_ É isso aí, deixa comigo.
_ Tá me reconhecendo não?
Nessa hora olhei pro Maninho. Buscava apoio pra situação, entende? Depois de uns momentos de hesitação, o cidadão mesmo respondeu.
_ Eu sou o PC!
_ ...
_ O PC, armador! Joguei quatorze anos no time de basquete do Flusão!
_ Ah, lembro sim. - Menti, pra não ficar chato.
_ Naquele tempo era diferente... A gente trouxe os cubanos....
_ Sei...
O camarada que estava com ele era um coroa de uns trezentos anos que (acho) tinha um olho de vidro. O problema era saber qual dos dois. Resolvi mirar no nariz enquanto ele falava. Era conselheiro do Fluminense, não diretor (fazia questão de distinguir).
_ ... aí o segurança não queria me deixar entrar na Gávea. Pode isso? Eu estava acompanhando meus atletas! Ah, eu perdi a paciência! Virei para ele e disse: "Escuta aqui, ô crioulo, eu vou entrar sim, está me entendendo?". Eu ia encher o negão de sopapo, minha senhora é que me segurou. Aqui sim, as pessoas podem se sentar e ter uma conversa agradável com gente educada. Flamenguista tem mais é que morrer!
Preciso dizer que eu sou um crioulo flamenguista? Achei melhor sonegar as informações antes que o nazista resolvesse me encher de sopapo também. Quando olhei pro lado, o PC estava com as mãos postas em minha direção.
_ Deixa eu tentar uma coisa. - Ele disse.
A partir daí se seguiram minutos intermináveis de uma fala ininteligível. Uma voz gutural dizia coisas sem sentido nenhum. O PC estava vermelho, parecia que ia explodir. O pior é que ninguém estranhava a cena, parecia a coisa mais normal do mundo. Chorando ele explicou (?) ter falado em aramaico. Deu vontade de falar e ele falou, simples assim. Antes que pintasse mais um da galera deles, dei um jeito de lembrar que tinha que ir ao barbeiro e saí batido. Afinal, maluco por maluco, sou mais falar de futebol e ficar ouvindo fofoca dos outros.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Eu vi o cu do gringo

Tinha resolvido que ia parar de contar história de gente maluca por aqui; podia parecer que eu vivo num manicômio ou coisa assim. Acontece que essa eu não resisti. Tem um monte de figura por aí, mas esse cara aloprou. Ele é um americano (acho) que vive no boteco aqui do lado de casa. Tá sempre de bermudão, colete e boné de baseball. A idade não saberia precisar: alguma coisa entre quarenta e cento e vinte anos. Tava de bobeira perto da banca de jornal quando me vem o doido.

_ E aí, cara, tudo bem?
_ Tudo, tudo bem e você?
_ Tranquilo. Sabe o que é? É que a gente tá sempre se encontrando por aí e nunca se fala. Qual é o seu nome?
_ Carlos. E o seu?
_ Andrew (?). Mas, o que que houve contigo aí, cara? - falou apontando pra minha cadeira de rodas - Sempre tive vontade de perguntar.
_ Ah, isso foi uma inflamação na medula e tal.
_ Sei... Cara, eu também ando passando por uns apertos aí.
_ É?
_ Sabe aquele cara que caiu um vergalhão na cabeça dele?
_ Vergalhão?
_ É. Passou no jornal e tudo
_ Ah, tá. O que que tem?
_ Então, fiquei na mesma enfermaria que ele. Tive um pico de pressão - não lembro quanto ele falou que tava, mas era alta pra cacete - e fui, sozinho, pro Miguel Couto. Peguei um táxi e fui sozinho pro Miguel Couto.
_ É mesmo?
_ É, pode acreditar. O médico disse que nós é dois cagão. De sorte, entende?
_ Entendo. Sortudos, né?
_ É, dois cagão. Outro dia tava lá também. Fui operar. - enquanto falava ia procurando algum arquivo no celular - Você não é de impressionar não, é?
_ Não. - só agora percebi que devia ter respondido que sim, eu sou de me impressionar sim.
_ Achei! Daqui a pouco eu te mostro. Eu liguei pro meu irmão e disse pra ele assim: "tô indo operar". Ele ficou nervoso pra cacete, mas eu disse: "não esquenta não que tá tudo certo". É que eu tava com uma ferida que ia do cu até o saco. E fui lá pra operar.
_ Ãh, sei...
_ Então, olha aqui.

Eu sei que não devia ter olhado, que só podia ser merda isso; mas eu olhei, tá? Olhei e me arrependi. Acho que nunca mais vou esquecer a imagem. Não tava muito nítida (graças a Deus), mas a foto mostrava a área em questão momentos antes da tal cirurgia. Close do inferno. Só que o cara não aparentou desconforto nenhum com a situação. Pelo contrário; parecia até meio orgulhoso do fato. E era um tal de "meu cu isso", "meu cu aquilo"; sem o menor constrangimento. Vai ver não ensinaram pro Andy nenhum sinônimo mais apropriado em português. Tudo isso balançando aquele celular como que rebolando pra todo mundo. Arrumei uma desculpa e fui embora antes que ele resolvesse mostrar mais coisa. Não me pergunte por que, mas fiquei com nojo de apertar a mão do cara na hora de ir. Então, é isso. E faz o seguinte: se você não tiver nada pra fazer e quiser dar uma sacada no cu do gringo, é só avisar que eu apresento o cara. Acho que ele vai ficar feliz com mais alguém dando aquela espiadinha nele.