Já fazia um tempo que
eu não andava de metrô. Costumava usar direto, mas agora, principalmente desde
o semestre passado, tenho rodado mais de ônibus. Não que seja aquela maravilha,
mas pra ir todo dia pra faculdade é o meio mais prático.
Basicamente existem
dois problemas pra um cadeirante meia bomba que nem eu enfrentar nos
subterrâneos da cidade: o horário do rush lotadão e o tal vão entre o trem e a
plataforma. Com a muvuca eu não precisava me preocupar porque era sábado, hora
do almoço. Já o lance do buraco estava lá, firme e forte. Tive uns quinze
minutos esperando na estação pra me preparar pra ele. É curioso o jeito que
rola isso. Todo santo dia encaro obstáculos bem mais difíceis do que esse, tranquilo.
Acontece que, quando colocam um vácuo no meio, a coisa muda de figura. Sei lá,
bate um cagaço das rodinhas engancharem justamente ali, naquele espacinho. Deve
ser psicológico isso.
A composição chegou.
Entra comigo um coroinha com pinta de maneiro. Dentro já tinha um camarada.
Confesso que julguei mal o cara porque estava o maior cheiro de cinzeiro e
achei que ele estivesse fumando em local proibido. De repente o coroa levanta correndo
em direção à saída. A porta automática fechou em cima dele, que teve
dificuldades, mas conseguiu saltar. Olhei pro lado e ainda deu pra ver o outro
sujeito saindo batido. A maresia foi só aumentando. E agora ainda tinha uma
fumaça branca que deixava o ambiente todo embaçado.
Do lado de fora, o
velhinho dava pancadas no vidro enquanto fazia um monte de sinal esquisito.
Pelo que eu entendi, tentava avisar ao condutor que tinha um cadeirante lá dentro
e tal. Depois de um tempo, abriram a porta e aí descobri que o troço estava
pegando fogo e só eu não sabia de nada. Bonito: o velhote viu que estava dando
merda, se pirulitou rapidinho e me largou ali com a bronca. Só depois que
estava a salvo é que lembrou do babaca aqui.
A volta também demorou
um pouco. Isso porque o elevador da estação estava quebrado e eu tive que ir
até o ponto final pra mudar de linha. Pena; acabei perdendo o
noticiário. Tenho certeza que ia encontrar o velho por lá dando entrevista; tirando
onda de heroi às minhas custas. Assim é mole, né, Munn-Ra; assim é mole.