Sansão,
o papo hoje é com você, que latiu para mim logo cedinho. Eu sei que não foi por
mal, que é a sua maneira de saudar as pessoas, um cumprimento afetuoso. Só que
a dona não entendeu assim, não. Vocês vinham bem atrás de mim; acontece que a
calçada era estreita e não consegui dar a prioridade a que, certamente, vocês têm
direito. Acredite; acelerei o mais que pude para liberar a passagem. No entanto
a dona, preocupada que é com o seu bem estar, Sansão, julgou que você tinha se
assustado com algo que ela identificou como um bicho. Olhei ao redor e
verifiquei que só havíamos nós três e o rapaz que dorme no chão da esquina da
padaria. Todo dia ele está ali, sobre sua cama de papelão. Ela, sem baixar a
fuça empinada, tratou de esclarecer que a questão não era comigo. Que você,
Sansão, fica agitado quando encontra dessas coisas pelo caminho. Intrigado com
o caso, resolvi te dar um toque, já que nós somos amigos. Faz o seguinte,
Sansão: amanhã, quando sair levando a dona para o passeio, empresta para ela um
pouquinho de noção e ensina que ali no canto não tem bicho nenhum. Entendo que
burro velho é difícil de adestrar, mas, creio, vale a tentativa. E, bicho, uma
informação talvez ajude: sabe o menino da rua? Aquele, do colchão de papel. O
nome dele é Cristiano. Anota aí para não esquecer: Cristiano.