Todo mês eu faço tratamento numa clínica ali no Humaitá. Todo mês ele está lá, na espreita, só me esperando. Não sei por que, mas o porteiro da São Carlos não vai com a minha cara. É só eu apontar no estacionamento e ele já abre aquele sorrisão. Mete a boina de sargento e vem comandar a manobra. “Minha senhora, segura a porta aí pra mim” – e a minha mãe obedece. “Ô rapazinho, recolhe esse braço que sou eu que tô conduzindo” – e eu obedeço. “Primeiro andar, né?” – e o elevador obedece. Na saída é a mesma coisa. “Pode deixar que eu desço a rampa na boa” – já tentei argumentar. “De jeito nenhum, ficou doido?” – assumindo a direção. “Mas não dá para ser de frente?” – ando meio rebelde. “Dis costa, pra sua própria proteção, dis costa” – fim de papo. Teve uma vez que eu tentei passar na encolha. O cara pulou que nem um gato e parou na frente da porta:
_ Terminou a medicação?
_ É, né... Só ia manobrar aqui ó.
_ Podia ter manobrado ali atrás. – fez cara de Capitão Nascimento e finalizou – Mas não vai de frente não, questão de segurança.
Por algum motivo as pessoas pensam que o modo correto de se conduzir uma cadeira de rodas por um obstáculo é sempre de costas. Depende. Se você está sozinho, conduzido, se é rampa, se é meio fio. Versão resumida: rampa, sempre de frente; degrau subindo, sozinho frente e conduzido ré; descendo é o contrário. Entendeu? Pois é, desse jeito nem eu. Mas, pode crer, com a prática a gente acaba indo no automático. Está todo mundo sempre querendo ajudar. Fica até difícil dizer que não precisa, que eu estou só dando um rolé por aí. Você sai para se exercitar um pouco, dar uma treinada no Aterro e lá vem o tiozinho metendo a mão na cadeira. Outro dia recusei ajuda e o coroa não gostou; fez cara feia e saiu resmungando.
Nem disse que meu amigo porteiro trabalha em dias alternados, disse? O final do tratamento caiu na folga dele. Liberdade! Aproveitei a chance e saí do hospital para dar uma volta pela área. Quem sabe uma olhadinha na Lagoa? Até que veio uma moça perguntando se eu precisava de ajuda e um maluco que nem perguntou nada, já saiu empurrando. O cidadão falava demais (“tô acostumado com isso, meu amigo amputou a perna”) e simplesmente não adiantava tentar explicar que eu não precisava de forcinha nenhuma (“você não amputou a perna não, né?”). Ainda acho que o porteiro deixou o primo dele na esquina, na espreita, só esperando eu passar desacompanhado pela rua. Vai por mim, é combinado.
Foi quando eu olhei direito para a moça, que ainda estava nos acompanhando, e percebi que era aquela atriz, a Isabela Garcia. Então eu matei a charada: atriz da Globo e o sem noção falador, só pode ser pegadinha. Devia ter alguma câmera escondida esperando a hora do Faustão aparecer. Por falar nisso, alguém aí viu se eu apareci no programa domingo?
Achei BEM legal a maneira que vc escreve... vou acompanhar sempre. Obrigada por indicar !! ANNA
ResponderExcluirÔ Anna, valeu mesmo. Aparece sim, sempre que quiser. abração
ResponderExcluirkkkkkkkkk
ResponderExcluirAmei o seu jeito irreverente em lhe dar com a situação,acredito que dessa forma fica mais fácil,ficar "dis costa"...
No mais, achei muito interessante o seu espaço,esta de parabéns pela iniciativa em mostrar a realidade,além do que muitas vezes os nossos olhos não conseguem visualizar...
Um grande abraço!!!
Valeu, Hits, o espaço é nosso. abração
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