segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A piranha bêbada e o touro de chifre miúdo - uma fábula etílica no país do carnaval


O Bloco das Piranhas abria oficialmente o carnaval de Friburgo. Um monte de marmanjo vestido de mulher, coisa mais ridícula. Eu, garoto, achava aquilo tudo o máximo; participava do evento pela primeira vez. Até onde me lembro estava na concentração atracado a uma garrafa de vinho barato. Antes mesmo do desfile começar eu já tinha desmaiado no meio da rua. Meu primeiro coma alcoolico. O enjoo só foi passar na quarta-feira de cinzas, mas valeu a pena, foi tudo bem divertido. Em outra ocasião ia mijando na minha mãe. Cheguei em casa de porre, achei que o quarto dela era o banheiro e estava pronto pra abrir os trabalhos. Ainda bem que a coroa teve presença de espírito; segurou o touro pelo chifre e evitou o pior. Hoje em dia ela até já fala comigo. Teve também a vez que roubei a Brasília do meu pai e quase fui parar dentro de um mangue. Já taquei fogo na camisa (duas vezes), vomitei de tudo que é jeito (em tudo que é lugar, de tudo que é cor), já acordei sem saber onde (nem como, nem por quê), enfim, já dei vexame pra cacete. Mas isso foi nos tempos de moleque. Até calibrar a serpentina, digo, aprender a beber leva tempo. Minha relação com a bebida foi melhorando com a idade. Dá pra dizer que me tornei um bom bebedor. Se a gente reunir agora um grupo de amigos bons de copo, provavelmente vou ser um dos últimos a cair. Houve tempo em que sentia certo orgulho disso. Acontece que algo mudou depois da lesão. Acabei parando com esse lance de beber. Não que eu tenha sido proibido ou coisa assim. Pelo contrário; os médicos autorizam (e muitas vezes até aconselham) tomar um gelo de vez em quando, sem problemas. Eu é que não ando muito a fim mesmo. Talvez seja porque queira me manter o mais sóbrio possível já que estou pilotando uma cadeira. Gosto de tocar a bike sozinho, entende? Ainda têm as transferências (cadeira-carro, carro-cadeira, cadeira-sofá, sofá-cadeira, cadeira-cama). Um estabaco nessas situações é mais que possível, é provável, quase certo. Pode ser também por causa da tal bexiga neurogênica. Explico: eu não tenho sensibilidade pra saber quando o tanque está cheio, sacou? Aí tudo passa a ser uma questão de lógica matemática: se você bebe muito, então vaza muito. E digo vaza porque o troço transborda mesmo; não dá pra controlar, nem pra perceber. De repente você olha pra baixo e tem uma poça enorme onde deveria estar seco. É isso ou desfilar por aí de fraldão geriátrico. Tem gente que não liga, mas eu passo; tô fora. Mas não deixei de encontrar a rapaziada pra tomar um chope. Até porque a expressão pra mim sempre teve mais a ver com evento social que com a birita em si. Sem contar que é muito engraçado acompanhar a transformação. Aos poucos todo mundo vai ficando doidão e eu ali, sóbrio que nem uma freira. Aí é só chantagear todo mundo no melhor estilo “eu sei o que vocês fizeram na noite passada”. Os caras põem na conta da amnésia alcoolica e eu desse jeito ainda vou acabar ficando rico.

2 comentários:

  1. Muito bom! Eu como não bebo, sempre vi essas transformações dos amigos, após as reações da bebida!!

    Um abraço

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  2. Bem essas vezes que vc contou ai não fazem jus nem a 1/1000 das vezes que vc ficou bebado né.
    Agora essa de ficar sóbreo enquanto todos ficam bebados é fda mesmo ver as mudanças de fisionomias e o nível do assunto mudando completamente.

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