_ Oi, amigo! Como é que você tá?
_ Tudo certo, Maninho, tudo certo. E você?
_ Rapaz, eu já ralei pra caramba hoje. Pintei um apartamento
todinho. Depois eu vou lá fazer uma limpeza boa, já pedi pra deixar a chave com
o porteiro e tal...
_ Aí deu uma parada pro almoço...
_ Almoço nada, pra uma cervejinha mesmo. Uma não, duas. - Disse
isso já fazendo sinal pro atendente.
_ Você joga basquete, né? - Um cara na mesa ao lado resolve
perguntar pra mim.
_ Já joguei, já joguei, agora não.
_ Ué, por que não?
_ Porque eu sabia jogar em pé, agora tenho que aprender a jogar
sentado.
_ Tu faz o seguinte: pega uma quadra daquelas ali no Aterro e fica
só treinando arremesso. Chuta uma, depois chuta outra... Daqui a pouco já tá
craque.
_ É isso aí, deixa comigo.
_ Tá me reconhecendo não?
Nessa hora olhei pro Maninho. Buscava apoio pra situação, entende?
Depois de uns momentos de hesitação, o cidadão mesmo respondeu.
_ Eu sou o PC!
_ ...
_ O PC, armador! Joguei quatorze anos no time de basquete do
Flusão!
_ Ah, lembro sim. - Menti, pra não ficar chato.
_ Naquele tempo era diferente... A gente trouxe os cubanos....
_ Sei...
O camarada que estava com ele era um coroa de uns trezentos anos
que (acho) tinha um olho de vidro. O problema era saber qual dos dois. Resolvi
mirar no nariz enquanto ele falava. Era conselheiro do Fluminense, não diretor
(fazia questão de distinguir).
_ ... aí o segurança não queria me deixar entrar na Gávea. Pode
isso? Eu estava acompanhando meus atletas! Ah, eu perdi a paciência! Virei para
ele e disse: "Escuta aqui, ô crioulo, eu vou entrar sim, está me
entendendo?". Eu ia encher o negão de sopapo, minha senhora é que me
segurou. Aqui sim, as pessoas podem se sentar e ter uma conversa agradável com
gente educada. Flamenguista tem mais é que morrer!
Preciso dizer que eu sou um crioulo flamenguista? Achei melhor
sonegar as informações antes que o nazista resolvesse me encher de sopapo
também. Quando olhei pro lado, o PC estava com as mãos postas em minha
direção.
_ Deixa eu tentar uma coisa. - Ele disse.
A partir daí se seguiram minutos intermináveis de uma
fala ininteligível. Uma voz gutural dizia coisas sem sentido nenhum. O PC
estava vermelho, parecia que ia explodir. O pior é que ninguém estranhava a
cena, parecia a coisa mais normal do mundo. Chorando ele explicou (?) ter
falado em aramaico. Deu vontade de falar e ele falou, simples assim. Antes que
pintasse mais um da galera deles, dei um jeito de lembrar que tinha que ir ao
barbeiro e saí batido. Afinal, maluco por maluco, sou mais falar de futebol e
ficar ouvindo fofoca dos outros.