domingo, 13 de março de 2011

Salve, Jorge!

A Gloria estava ao telefone pegando informações sobre um resort para a gente de repente ir qualquer dia desses. Termina a ligação e fica rindo sozinha. Parece que a coisa foi assim:


_ Mas então vocês têm acessibilidade para cadeirantes...
_ Teeemos. Total acessibilidade.
_ Ah, tá. Ele pode circular sozinho pelas principais dependências do hotel, né?
_ Não, não, sozinho não.


A gente só fez uma viagem por enquanto. Hotel Florença, em Conservatória. Dica de uma amiga (cujo pai estava utilizando uma cadeira de rodas à época) que foi lá e gostou. O objetivo era passar o fim de semana do meu aniversário só nós dois. Ligamos com a devida antecedência, pesquisa na internet, beleza, certinho. Tentamos nos montar de todas as formas prevenindo qualquer contratempo nessa viagem-teste. Resultado: ficamos eu, ela e o Jorge. Ninguém esperava que um hotel fazenda oferecesse arvorismo adaptado ou tivesse elevador para subir em charrete. O basicão era quarto, banheiro e algumas áreas comuns. Acontece que eu só tinha autonomia para ir do quarto até a recepção. Ou seja: pagar a conta eu podia, almoçar não. O mesmo esquema do restaurante valia para as piscinas, salão de jogos, igreja, casa grande, áreas de convivência. Para frequentar qualquer desses ambientes, só com ajuda, pois o chão é todo irregular, de pedra. E é aí que entra o Jorge. Funcionário do hotel, bastava a gente sair do quarto para o cara aparecer. Vamos para a piscina? Está lá o Jorge oferecendo uma forcinha. Salão de jogos? Jorge saltando de trás de uma moita. Ficou na nossa cola o tempo todo. A fazenda serviu de locação para algumas novelas, mas daí a ter escravo particular vai uma distância. Só faltou a musiquinha de fundo: lerê, lerê, lerê, lerê, lerê, vida de nêgo é difícil... Um fazendão do século 19 deve mesmo preservar o aspecto da época e tal. Uma boa solução para o problema é a medida que adota o Forte de Copacabana, que mantém a forma original, mas cria um caminho alternativo paralelo com piso regular. Uma espécie de tapete de concreto. O Vassouras Eco Resort é novinho em folha (só seis meses de funcionamento) dava para ter feito um projeto inclusivo. Acho bem mais inteligente. O balanço da viagem acabou sendo super positivo. Deu para curtir, descansar. Na despedida, quem parecia feliz mesmo era o Jorge. Vai ficar um bom tempo sem poder ouvir falar em cadeira de rodas.

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